_Acompanhei essa história desde os primeiros passos – antes mesmo dela existir. A inspiração para o livro foi um conto escrito pela irmã da autora, que passou por muitas transformações até contar as aventuras de Nina e seus amigos que, numa certa noite, precisam salvar as canções de ninar da cidade de Blufis. Comecei a desenhar quando Blufis e os amigos da protagonista existiam apenas em linhas gerais, mas sequer tinham um nome. Aos poucos a Lorena e o Gustavo iam descobrindo e me contando mais sobre cada um deles.

O desenho ia ganhando mais complexidade e também inspirava a criação da história, à medida em que elementos que eu desenhava revelavam caminhos para a narrativa. Foi assim que, por exemplo, a Cora ganhou malabares superpoderosos, e uns medinhos só dela; o Valentim mostrou que gostava de música; a Floresta do Lusco-fusco, que apareceu no meu mapa da cidade e arredores, ofereceu uma solução para um ponto onde a história tinha emperrado; ou que a arquitetura intrincada e fantástica que criei para a casa da antagonista, a Sra. Violeta, se tornou um ambiente fértil para os desafios que as crianças iriam enfrentar em sua aventura.

Da mesma maneira, algumas cenas inteiras surgiam na cabeça da autora como desenho e percebíamos que era preciso que estivessem no livro. O percurso criativo foi repleto de trocas como essa e muito prolífico – fiz tantos desenhos que muitos nunca entraram no projeto do livro, eram apenas o reconhecimento desse universo complexo – a casa da Nina vista de fora, a planta da casa, o banheiro da Nina, o escritório da Sra. Violeta, o quarto do bebê e muitos outros.

Além de criar esse ambiente para acolher a história, havia um outro desafio, que a narrativa alinear trazia: numa alternância constante, parte do texto era escrito no diário de Nina, contando o que se havia passado durante a noite; e parte era o presente, o dia seguinte à aventura, contado por um narrador observador – e os desenhos precisavam costurar esses fragmentos. Escolhi fazer os desenhos do presente sobre papel amarelo, conseguindo como resultado composições extremamente luminosas e diurnas; enquanto os desenhos do passado eram feitos sobre papel azul escuro, ganhando uma atmosfera misteriosa, em acordo com a situação desconhecida enfrentada pelos personagens durante a noite. Além disso, inseri nos desenhos da noite pequenos relógios onde a hora ia avançando junto com a história, oferecendo um elemento a mais para que o leitor montasse essa espécie de história-quebra-cabeças.

O livro, lançado na livraria 97 com uma contação de histórias genial de Kiara Terra, foi um dos finalistas da categoria Literatura Infantil do Prêmio Jabuti 2015 e entrou no catálogo da FNLIJ para a Feira de Bologna 2015.