_recebi com muita alegria o convite da programadora Bruna Freire Bastos para voltar ao Sesc Taubaté e criar um novo mural na Área de Convivência. Depois de ter feito dois projetos murais para a unidade, recebendo a acolhida carinhosa de toda a equipe, voltar a Taubaté era sinônimo de rever pessoas queridas, num ambiente rico de troca, numa cidade em que a proximidade com o Sítio do Pica-pau Amarelo estimulava em mim a criação de histórias. O tema que ela propunha, em concordância com a programação da unidade na ocasião, era Criança e Natureza – tema que muito me interessa.

Todas as vezes em que estive lá, as conversas com quem passava pelo lugar – os funcionários das mais diversas áreas, visitantes, usuários, crianças participantes do Curumim, etc – alimentavam de alguma maneira a criação do mural: entre os desenhos que vinham esboçados desde o ateliê, surgiam outros, sugeridos pelas histórias que as pessoas contavam ao ver as imagens que, a cada dia, iam aparecendo nas paredes. Dessa vez, eu queria aprofundar essa relação com o público na criação do mural – queria que a história contada pelas imagens nascesse desse contato, em uma relação de troca e improviso, em que a criação acontecesse no momento mesmo da pintura, diante dos nossos olhos e a partir de uma ação colaborativa.

Essa maneira de realizar o projeto trazia um desafio enorme, pois os desenhos e a história que os alinhavaria não poderiam ser esboçados com antecedência, como havia feito em todos os murais anteriores. Isso significava que era preciso ter uma estratégia de criação e um planejamento prévio ainda mais sólidos, pois envolveria o inesperado e pessoas que não tinham experiência na área.

A partir da minha recente proximidade com as práticas de treino do teatro, entendi que alguns desses recursos poderiam ser ferramentas valiosas para a criação coletiva – e convidei a Ligia Campos, atriz, palhaça, educadora e artista visual para desenvolver o projeto comigo. Foram muitas e longas as reuniões de ateliê, em que elaboramos jogos e práticas, paletas e testes para verificar se nossas estratégias poderiam frutificar.

Então, traçamos com a Bruna o planejamento do período de pintura do mural: passaríamos uma semana em imersão no Sesc; durante a semana, quando o fluxo de pessoas é menos intenso, trabalharíamos, segundo sugestão da própria Bruna, com grupos de crianças e adolescentes de escolas municipais que ela contatou e convidou; no fim de semana, o processo estaria aberto ao público em geral.

Foram seis dias de trabalho intenso, com oficinas de 2h a 3h por turma, criando ideias, imagens e laços entre nós, a partir dos jogos e da preparação dos corpos que a Ligia propunha; e muito trabalho de rolo e pincel entre as oficinas. Nos jogos, as crianças eram estimuladas a experimentar ser árvore, pássaro, água, terra, vento, silêncio. Tudo acontecia em movimento, mas a certa altura a Ligia pedia para que elas fizessem com o corpo uma "foto" e, paradas na pose diante da parede, o contorno das crianças era desenhado no mural. A partir das propostas delas e do que sugeria o desenho resultante dessa ação, pensávamos o que a pintura poderia tornar visível desse nosso imaginário.

O resultado foi a criação de um lugar onde vivem criaturas fantásticas – cogumelos gigantes, árvores que dançam, uma enorme mariposa colorida, uma criatura que é o próprio vento, agitando com seu sopro o capim tomado de surpresa... Era bonito ver a transformação do espaço e as pessoas que voltavam, dias depois, para ver em que ser da natureza elas haviam se transformado na pintura. Foi um trabalho tocante, cujas lembranças sempre me enchem de alegria por ter podido ver esse mundo surgir a partir do encontro de tantas pessoas.