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_Pantanal
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA . LIVRO

2014. desenhos, caderno e livro de artista.
 

_chegamos ao Pantanal de noite. Vagávamos entre as estrelas, que brilhavam sobre a superfície lisa do rio Paraguai e se agitavam ao passarmos com a voadeira. Na proa, nosso guia procurava no escuro o caminho diário, diariamente modificado pelo movimento constante das ilhas de aguapé e entrevisto pela luz errante de uma lanterna. Quando finalmente atracamos no trapiche, fomos recebidos pela luz dos vaga-lumes e de um par de olhos flutuantes que ocultava um jacaré. Desembarcamos e seguimos um veado campeiro pela estrada que nos levaria até nosso pouso.

 

A luz da manhã descortinou a vasta paisagem fria que se alastrava em planícies de terra e água. Gigantescas árvores esparsas despontavam igualmente da vegetação rasteira e do reflexo do céu: eram esguias e de copa mirrada; atarracadas e de copas cheias; uma delas se erguia sobre dois troncos. Contra o cinza claro do céu, um som macio, repetido e branco revelou o bico negro de um Tuiuiú, que desenhava no ar um semicírculo e pousava no imenso ninho instalado no alto da copa de um ipê defronte à casa. Flores negras coalhavam o chão verde e, de quando em quando, revoavam em silêncio para mais longe ou para mais perto. Os gritos das maritacas ecoavam para soar as horas.

 

A residência artística no Pantanal foi marcada de experiências de uma realidade fantástica, assentada sobre distâncias inconstantes, que atravessávamos voando de corpo e barco, entre telhados, montanhas e copas, sempre prontos e disponíveis para o encontro com alguma descomunal criatura mágica.

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