_esse projeto mural integrou a programação de literatura do Sesc Campinas – Lá Fora Frio, Aqui a Mil – no inverno de 2016. Foi a Valquiria Pinheiro, curadora da programação, quem propôs esse universo (que povoou meus sonhos de infância!): o Reino das Águas Claras, onde o Príncipe Escamado, o Dr. Caramujo, Narizinho, Pedrinho e Emília se encontraram, na obra de Monteiro Lobato.

A Karen Dolorez foi quem alinhavou nossa criação com suas agulhas: recebi com a maior alegria o convite que ela me fez para criar com ela esse reino, a partir de sua ideia disparadora – ela faria um grande livro de crochê e, desse livro, nasceria todo um universo fantástico que iria ocupar, com linhas e tintas, a imensa sala multiuso da unidade. Convidei as ilustradoras Natália Gregorini e Daniela Galanti, para criar e pintar comigo esse universo. Enquanto a Karen e sua equipe crochetavam em São Paulo, nós desenhávamos e mergulhávamos em histórias nos nossos ateliês, em Campinas. Nesse processo colaborativo, vimos nascer os personagens da obra e outros que encontrávamos no caminho de criação – o canoeiro Nestor, a pequena viajante Verdioleta, um gigante, uma sereia, o menino na janela, os peixarinhos... Todos mergulhados num riacho quentinho de crochê que, magicamente, envolveria a sala toda.

Depois do trabalho de ateliê, foram 15 dias de imersão na unidade, crochetando, colando, pintando esse reino – das montanhas às folhinhas rasteiras. Quanto retiramos as fitas adesivas e os papéis de forro, foi o olhar do Álvaro Siqueira, da equipe do Sesc, que fez a sala definitivamente imergir nas Águas Claras: com um trabalho cuidadoso de iluminação, ele criou uma atmosfera única, ao mesmo tempo em que destacava cada personagem na sua trajetória submersa. Então, chegou o mobiliário criado especialmente para esse reino, a fita azul que fechava a sala foi retirada e vimos entrarem as crianças, os pais, os avós, os palestrantes – e redescobrimos, a partir dos seus olhares, o mundo que havíamos criado.

Esses encontros que aconteceram ali – com as artistas, a equipe do Sesc, as crianças do Curumin, os visitantes que viam aquele mundo crescer a cada dia e com os palestrantes – fizeram desse um lugar especial e acolhedor, que fez feliz a criança que guardo dentro de mim.