_Recebi o convite da Helena Segnini, programadora do Sesc S. Caetano, para pintar um painel na entrada da unidade. O painel, por sua vez, deveria ser ele mesmo um convite pessoal para que quem passava pela rua entrasse para conhecer o Sesc e participar das atividades, num gesto que buscava aproximar os moradores locais. A unidade tinha vocação para acolher com afeto, por ser uma casa de bairro engenhosamente adaptada para receber o público e, apesar do desenho da fachada ter se distanciado bastante do original, o interior não havia perdido o aconchego e a proporção que nos faz sentir em casa.

 

Convidei a ilustradora Natália Gregorini para criar e pintar comigo o painel. Dei início ao nosso processo criativo para os estudos feitos em ateliê, partindo de um desafio instigante presente na estrutra do painel: não iríamos pintar um muro, mas uma espécie de parede de lona, que tinha no canto inferior direito um recorte em formato de porta, que servia de entrada exclusiva para funcionários. Ao chegar na unidade, imediatamente visualizei ali a base para uma fachada de casa muito semelhante às que eu via no entorno. Não tinha dúvida de que devíamos aproveitar esse desenho base para criar a ideia de que ali havia de fato uma casa da vizinhança, diante da qual algo extraordinário aconteceria, despertando a curiosidade dos passantes.

 

Partindo desse cenário, criamos de maneira colaborativa uma história guia, que iria inspirar a

criação dos desenhos. Imaginamos que, numa noite qualquer, uma criatura mágica apareceria

caminhando pela rua e, ao encontrar pelos recantos do bairro outras criaturas mágicas, iriam se reunir para preparar uma grande festa. Juntas, elas bateriam às portas das casas para convidar os moradores a se juntarem a elas. O painel iria mostrar justamente o momento em que, tendo se reunido todos esses seres fantásticos, eles se preparavam para convidar o primeiro morador, cujo rosto podíamos ver pela portinhola entreaberta na entrada da casa. No centro da roda de personagens, uma árvore luminosa materializava a alegria do encontro e os laços criados a partir dele; um bilhete escrito a mão flutuava junto a ela, fazendo um convite para entrar.

 

Fizemos a pintura do painel em uma semana de imersão na unidade, ao fim da qual convidamos usuários, visitantes, funcionários e moradores a vivenciar conosco a história que havíamos criado.Preparamos lanternas coloridas de papel onde se colocavam os celulares com suas lanternas acesas e saímos em cortejo, numa fila longa e flexível, que dava uma volta no quarteirão,cantando a cantiga Se Essa Rua Fosse Minha, ao som da pequena sanfona que a Natalia tocava.De volta à entrada da unidade, agradecemos a todos pelo encontro e nos despedimos, com o coração cheio, de nossos novos amigos mágicos - os feitos de tinta e os feitos de sorriso e abraço.

 

Enquanto o painel esteve em exposição, a imagem que pintamos sobre ele foi capa da “Revista

e”, publicação mensal do Sesc que divulga a programação da rede e trata de assuntos como

educação, cultura, lazer e esportes, além de ser reproduzido em marcadores de livros distribuídos na unidade S. Caetano.

_FICHA TÉCNICA

 

 

_concepção e execução

Marina Faria e Natália Gregorini

 

_curadoria e programação Sesc S. Caetano

Helena Segnini

 

 _produção da pintura mural

Marina Faria

 

_fotos

Marina Faria