_A turma 2019 do Curso Livre de Teatro escolheu a peça de Max Frisch como uma forma de refletir sobre os acontecimentos políticos e sociais que estávamos vivenciando. Cada desafio colocado pela peça e pelas circunstâncias foi respondido com uma coesão e maturidade surpreendentes para um grupo que trabalhava junto pela primeira vez – a cada dificuldade, uma nova injeção de energia e vontade levou o trabalho adiante.

Para além da atuação e dos figurinos, o grupo assumiu ainda o aprendizado de canto para a música de abertura e a confecção de adereços complexos. Um elemento tão presente nas falas de todos (sobretudo do personagem título e do Coro), o jornal costurou visualmente cenas e personagens.

Ganhou a mesa, ao identificar cada alimento ali colocado e sempre representado por um pão seco; desenhou as cabeças dos diversos atores que representavam os mesmos personagens, numa espécie de jogo de máscaras em que o público reconhecia os jogadores, mesmo quando suas feições e vozes eram completamente diferentes do que havia sido visto na cena anterior.

Esses adereços foram cuidosamente confeccionados no meu ateliê, onde eu dava aos que se apresentaram para a produção algumas orientações e apresentava desenhos, reformulando propostas a partir das discussões com o grupo e os diretores. Então, todos nos colocávamos com um comprometimento profundo a procurar letras, preparar placas, cortar tiras de jornal, montar as bases das perucas que deviam se encaixar em cabeças diferentes, preparar a cola e finalmente, modelar fio a fio as "cabeças" de cada personagem.

Não poderíamos adivinhar o quanto a escolha desse texto faria ainda mais sentido no ano seguinte, quando continuamos a trabalhar sobre a peça, mesmo no contexto do distanciamento social colocado pela pandemia do covid-19.