_Em 2018, o Curso Livre de Teatro reuniu um grupo de pessoas fortes e doces que, ao perceber o ruído crescente criado por uma polarização de discursos nos encontros sociais, tinha urgência em falar sobre a necessidade de escuta nas relações.

Inspirados pela leitura de diversos autores – Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Eugene Ionesco, Samuel Beckett, Franz Kafka, Roland Schimmelpfennig, Gabriel García Marques – e pelo filme "O Baile", do diretor Ettore Scolla, o grupo criou uma peça autoral. Em cada cena, diferentes personagens procuravam lidar com suas realidades e universos pessoais, enquanto se preparavam para um grande baile que reuniria a todos.

A cada mudança de cena, as figuras dançavam, deslocando os cubos vazados que compunham o cenário e criavam, a partir de uma nova configuração, um novo espaço – a um só tempo frágil e instransponível – que propunha aos que o habitavam o desafio do convívio através de suas diferenças.

Para criar a identidade visual, procurei apreender e traduzir em pequenos retratos poéticos a batalha pessoal de cada personagem, como figuras de um jogo de cartas, dispostas em um diagrama invisível que os reúne e separa, assim como as arestas dos cubos e de suas relações. A tipografia pontilhada, por um lado, faz uma alusão à fragilidade dessas conexões, por outro, evoca os deslocamentos realizados em cena por cada indivíduo, em percursos que acabam por criar um todo comum. Na pesquisa de inspirações e tipografia, tive como parceiro André Quevedo Pacheco, integrante do grupo e do elenco.